Metodologia para Análise de Balanços de uma Empresa – Parte II

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Avaliação de Empresa

A análise de negócios é a raíz da filosofia buy and hold. Para investir em uma empresa, você deve entender pelo menos o básico desta metodologia.

Continuando o texto que começou neste link:  https://www.buyandhold.com.br/analise-de-balancos-parte-1/

– Receita bruta: por onde o dinheiro entra

É engraçado como mesmo grandes empresários enchem a boca para falar de receitas. É claro que ser dono de uma empresa com grandes receitas lhe dá um certo poder. Indica que você tem bastante influência no mercado em que atua, mesmo que seja dentro do seu próprio bairro. Mas a receita nada mais é do que a quantidade de dinheiro que entrou na sua empresa. Você nunca deve levar a receita tão a  sério, a não ser que seja para comparar entre outros períodos de receita da própria companhia, e saber se ela está vendendo mais ou menos.

Receita alta não tem nada a ver com lucro alto. Uma empresa que vende 5 pizzas a 10 reais mas lucra apenas 1 real por pizza terá menos dinheiro para pagar suas contas do que aquela que vende pizzas 2 pizzas a 10 reais mas lucra 3 reais por pizza. Já expliquei em outras postagens porque a margem líquida é muito mais importante.

– Custo dos bens vendidos (para produtos) ou custo das vendas (para serviços): quanto mais baixo, melhor.

O custo baixo é sinal de vantagem competitiva. Veja bem, eu disse sinal. Não é determinante porque a vantagem competitiva durável depende de outros fatores.

Quando uma companhia possui os custos mais baixos de seu setor, indica que ela será a última a quebrar em caso de crise ou guerra de preços. Ela tem maior poder de manipulação sobre os preços dentro desse mercado. Imagina o Supermercado do Zezinho tenta competir com o Carrefour sobre quem venderá o Arroz Tio João mais barato? Não preciso dizer mais nada, né?

– Lucro Bruto: Receita Bruta – Custos dos bens vendidos

O custo dos bens vendidos mencionado anteriormente faz parte da fórmula para descobrirmos o lucro bruto. Portanto está intrinsecamente ligado ao Lucro Bruto. Empresas com vantagem competitiva durável apresentam o lucro bruto mais próximo da receita bruta do que seus concorrentes. O que quer dizer que sua margem bruta, e geralmente a sua margem líquida também serão maiores. Este é um dos primeiros indicadores de que a empresa possui uma vantagem competitiva durável, sublinhei durável porque é necessário fazer esta análise observando um grande período de tempo. Geralmente 10 anos.

Ex: Alguns anos atrás (não sei como está hoje em dia), a margem de lucro da Coca-Cola era acima de 60%. A empresa de ratings Moody contava com margem de 73%, enquanto a Burlington Northern Santa Fe Railway, com 61%. A Wrigley, companhia de chicletes, 51%. Todas essas são empresas que o Warren Buffett possui ações.

Em outras palavras, sempre que puder, opte por empresas com alta margens. E na maioria dos casos fuja daquela com margens brutas abaixo de 20%.

– Despesas operacionais: esta é composta por Despesa de vendas, gerais e administrativas; P&D (Pesquisa e Desenvolvimento); Depreciação; Despesa com Juros 

  • Despesa de vendas, gerais e administrativas

Esta trata das despesas diretas e indiretas com vendas, gerais e administrativas, como diz o nome. Nestas despesas estão incluídas os salários da gerência, gastos com publicidade, comissão, custos com folhas de pagamentos, viagens e etc. Para investir em empresas, quanto menor estas despesas em relação ao lucro bruto, melhor. Em empresas como Coca-Cola esta porcentagem em relação ao lucro bruto não costuma ultrapassar 60%. Qualquer número abaixo de 30% é considerado fantástico! Empresas em mercados de grande concorrência costumam atingir com grande frequência taxas acima de 60%

  • Pesquisa e Desenvolvimento.

Empresas com vantagens competitivas duráveis geralmente possuem negócios simples de entender, lucrativo e com difícil entrada de novos concorrentes. E este tipo de empresa muitas vezes não precisa gastar grandes somas com pesquisa e desenvolvimento.

Muitas vezes, empresas que gastam grandes somas com P&D não possuem vantagem competitiva durável, e sim temporária. São empresas como fabricantes de medicamentos ou de tecnologia que são protegidas por alguma espécie de patente que em algum momento vai expirar e acabar com a sua vantagem competitiva. Por isto elas costuma gastar constantemente com P&D para manter esta vantagem, sempre criando produtos e tecnologias novas.

  • Depreciação

Ao comprar uma máquina, o seu custo não é deduzido imediatamente no balanço de uma empresa. No caso de uma máquina para fabricar algum produto, o seu prazo de depreciação é de 10 anos. Então quer dizer que se a empresa pagou 100 mil pela máquina, a cada ano será deduzido 10 mil de seu lucro líquido no sentido de contabilizar esta depreciação. Alguns analistas de mercado, entretanto, consideram que a depreciação não retiram dinheiro de fato das contas da empresa. Por isso muitas vezes eles fazem análise baseado no EBITDA ou LAJIDA (Lucro antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização). Eles entendem que a empresa tem mais caixa para fazer investimentos e dívidas, já que os 10 mil que estão sendo descontados todo ano não representam um desembolso.

Porém a depreciação é uma despesa real. No fim das contas a empresa terá que comprar outra máquina porque de fato elas sofrem desgaste. E aí, se o pensamento dos analistas fossem válidos para o empresário, não seria possível trocar o seu maquinário já que este teria comprometido as finanças da empresa com endividamentos e outros tipos de investimentos.

  • Despesa com Juros

Despesas com juros é o lançamento dos juros pagos, durante o trimestre ou ano, sobre a dívida que a empresa apresenta no balanço patrimonial como passivo. Se a empresa pega dinheiro emprestado, ela pagará juros por isso. Se a empresa empresta dinheiro para o banco, ela receberá juros. Empresas com grande vantagem competitiva recebem mais do que pagam, ou pagam uma porcentagem muito pequena de juros em relação ao seu lucro operacional. Empresas em mercados competitivos ou com modelos de negócios não atraentes tem que usar muito dinheiro emprestado e acabam, consequentemente, corroendo o seu lucro líquido com os juros.

Parte 3: https://www.buyandhold.com.br/metodologia-para-analise-de-uma-empresa/

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Olá, meu nome é Lucas, tenho 35 anos. Sou formado em Administração pela Universidade Fumec de BH, trabalho com Construção Civil e invisto na Bolsa de Valores desde 2009. Sou leitor assíduo de livros sobre Mercado de Ações, Empreendedorismo, e de histórias de superação. Sou adepto ao Investimento em Valor, filosofia de Ben Graham, e uso esse blog como estímulo para sempre buscar conhecimento e motivar outras pessoas para que elas não desistam do que realmente querem. A minha filosofia é de que conhecimento deve ser compartilhado de graça, porque no fim das contas todos saem ganhando. Continue acompanhando os novos artigos, e não esqueça de comentar! Se quiser me achar no Instagram pra bater um papo, é @buyandhold -- Obrigado! -- PS: Siga o blog Buy and Hold no Instagram, Twitter, e Face, clicando nesses ícones aí embaixo. Você não vai se arrepender! :P

5 COMENTÁRIOS

  1. Mais um grande artigo! Aliás o livro Warren Buffett e a análise de balanços detalha muito bem esses quesitos. Gostei muito da parte da Receita Bruta, vejo entrevistas dos diretores da JBS e eles se sentem tão orgulhosos de dizer aos seus acionistas seus números de Receita, mas o lucro que é o importante eles não priorizam.

    • Exatamente Augustorios. Tenho este livro e retirei grande parte deste post dele. É excelente. Fiz apenas alguns acréscimos e tentei escrever de uma forma que fiquei mais pessoal. De fato tem muitos executivos que falam de receitas como se fossem lucros. Pessoalmente receita não me impressiona. E para ser sincero, não sou fã de empresas muito grandes. Principalmente aquelas que não recompram ações ou não pagam altos dividendos.

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