Discurso de Steven Spielberg – Formandos de Harvard 2016!

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Harvard

Discurso de Steven Spielberg Transcrito e Traduzido Harvard 2016

Obrigado, obrigado. Presidente Faust, e Paul Choi, muito obrigado.

É uma honra e uma emoção falar para esse distinto grupo de alunos, amigos e pais orgulhosos. Todos nós reunimos para compartilhar a alegria deste dia, então por favor juntem-se a mim para parabenizarmos juntos a classe de 2016 de Harvard.

Eu consigo me lembrar da minha própria formatura, o que é fácil, já que eu me formei há apenas 14 anos atrás. Quantos de vocês demoraram 37 anos para se graduarem? Porque, como a maior parte de vocês da Harvard, eu entrei na faculdade ainda adolescente, mas no segundo ano, eu recebi a oferta do meu emprego dos sonhos na Universal Studios, então eu abandonei a faculdade. Eu falei para os meus pais que se a minha carreira no cinema não fosse bem, eu entraria novamente.

Foi muito bem.

Mas, eventualmente, eu voltei por um motivo importante. A maioria das pessoas entram na faculdade pela educação, outras vão por causa dos pais, eu fui por causa dos meus filhos. Eu sou pai de sete, e eu continuava insistindo sobre a importância de se formar na faculdade, mas eu não fiz o que pregava. Então, na casa dos cinquenta, eu me rematriculei na Cal State — Long Beach, e concluí minha graduação.

Só para acrescentar: ajudou o fato de eles me liberarem da disciplina de paleontologia por causa do trabalho que fiz em Jurassic Park. Isso significa três créditos para o Jurassic Park, obrigado.

Bem eu saí da faculdade porque eu sabia exatamente o que queria fazer, e alguns de vocês sabem também — mas alguns não. Ou talvez você pensou que sabia mas agora está questionando a sua decisão. Talvez você esteja sentado aí tentando encontrar uma forma de contar para os seus pais que você quer ser médico, e não um escritor de comédia.

Bem, o que você escolher fazer em seguida é o que chamamos nos filmes de ‘momento-de-definição-de-caráter’. Você estão bem familiarizados com estes momentos, como em Star Wars: O Despertar da Força, quando Rey descobre que a força está com ele. Ou quando Indiana Jones escolhe a missão ao invés do medo ao pular em um monte de cobras.

Em um filme de duas horas você tem diversos momentos de definição de caráter, mas na vida real, você encontra estes momentos todos os dias. A vida é uma longa sequência de fortes momentos de definição de caráter. E eu fui sortudo de aos 18 anos saber exatamente o que queria fazer. Mas eu não sabia quem eu era. Como poderia? E como poderia qualquer um de nós? Porque nos primeiros 25 anos da nossa vida, nós somos treinados a escutar vozes que não são as nossas. Pais e professores enchem a nossa cabeça com sabedoria e informação, e então chefes e mentores tomam os lugares deles e explicam como o mundo realmente funciona.

E geralmente estas vozes de autoridade fazem sentido, mas algumas vezes, a dúvida começa a aparecer na nossa cabeça e no nosso coração. E mesmo quando nós pensamos, ‘isso não está nem perto de como eu vejo o mundo’, é fácil simplesmente balançar a cabeça de acordo e colaborar, e por um momento, eu deixei esse comportamento definir o meu caráter. Porque eu estava reprimindo o meu próprio ponto de vista, porque como diz naquela música de Nilsson, ‘Todos estavam falando para mim, então eu não podia ouvir os ecos de minha mente’

E no começo, a voz interior que eu precisava escutar era dificilmente audível, e dificilmente notável — meio parecida comigo na escola secundária. Mas então eu comecei a prestar mais atenção, e então a minha intuição bateu.

E eu quero deixar claro que a sua intuição é diferente da sua consciência. Elas trabalham em conjunto, mas existe uma distinção: A sua consciência grita, ‘aqui está o que você deve fazer.’ enquanto a sua intuição sussurra, ‘aqui está o que você poderia fazer’. Ouça a voz que te diz o que você poderia fazer. Nada irá definir mais o seu caráter do que isso.

Porque uma vez que me virei para a minha intuição e me sintonizei a ela, certos projetos começaram a me puxar, e outros, eu me afastei.

E até a década de 80, meus filmes eram os mais, eu acho que posso dizer ‘escapistas’. E eu não desmereço nenhum destes filmes — nem mesmo o 1941. Nem mesmo este. E muitos destes filmes antigos refletiam os valores que eu valorizada profundamente, e que ainda valorizo. Mas eu estava em uma bolha, porque eu limitei a minha educação cedo, a minha visão de mundo era limitada ao que eu podia imaginar na minha cabeça, não ao que o mundo poderia me ensinar.

E então eu dirigi o filme A Cor Púrpura. E este filme abriu os meus olhos para experiências que eu nunca poderia imaginar, e que ainda são muito reais. A sua história está repleta de dores profundas e verdades mais profundas ainda, como quando o Shug Avery diz, ‘Tudo quer ser amado.’ O meu instinto, que era a minha intuição, me disse que mais pessoas precisavam conhecer estes personagens e experimentar estas verdades. E enquanto eu estava fazendo aquele filme, eu percebi que um filme também poderia ser uma missão.

Eu espero que todos vocês encontrem este senso de missão. Não se afaste do que é doloroso. Examine. Desafie.

O meu trabalho é criar um mundo que dura duas horas. O seu trabalho é criar um mundo que dura para sempre. Vocês são os futuros inovadores, motivadores, líderes e cuidadores.

E a forma de criar um futuro melhor é estudando o passado. O escritor de Jurassic Park, Michael Crichton, que se graduou aqui na Harvard e nesta faculdade de medicina, gostava de citar o seu professor favorito que dizia que se você não conhece a história, você não conhece nada. Você é uma folha que não sabe que faz parte da árvore. Portanto graduados em história: Boa escolha, vocês estão muito bem…Não no mercado de trabalho, mas culturalmente.

O resto de nós devemos nos esforçar um pouco. As mídias sociais em que estamos inundados fervilham informações sobre aqui e agora. Mas eu tenho lutado e lutado dentro da minha família para que meus filhos olhem para trás delas, a olhar para o que já aconteceu. Porque entender quem eles são é compreender quem nós fomos, e quem nossos avós foram, e então como era este país quando eles chegaram aqui. Nós somos uma nação de imigrantes — pelo menos até agora.

Então para mim isso significa que nós temos que contar a nossa história. Nós temos muitas histórias para contar. Converse com os seus pais e com seus avós, se você puder, e pergunte para eles sobre as suas histórias, e eu prometo para vocês, assim como eu prometi para os meus filhos, que vocês não ficarão entediados.

É por este motivo que eu frequentemente faço filmes baseados em fatos reais. Eu olho para a história não para ser didático, ‘porque isso é um bônus, mas eu olho porque o passado é repleto de grandes histórias que foram contadas. Heróis e vilões não são personagens literárias, eles estão no cerne de todas histórias.

E novamente, é por isto que é tão importante ouvir o seu sussurro interno. É o mesmo que compeliu Abraham Lincoln e Oskar Schindler a tomarem as decisões morais corretas. Em seus momentos de definição, não deixe que a sua moral se deixe influenciar por conveniência ou oportunidade. Manter o seu caráter requere muita coragem. E para ser corajoso, você precisará de muito apoio.

E se você tiver sorte, você tem pais como os meus. Eu considero a minha mãe o meu amuleto de sorte. E quando eu tinha 12 anos de idade, meu pai me deu uma câmera de vídeo, uma ferramenta que me permitiu fazer sentido neste mundo. E eu sou muito grato a ele por isto. E eu sou grato por tê-lo aqui em Harvard, sentado logo ali.

Meu pai tem 99 anos de idade, o que significa que ele é apenas um ano mais novo do que a Livraria Widener (livraria de Harvard). Mas diferente de Widener, ele não foi reformado nenhuma vez. E pai, tem uma senhora atrás de você, também com 99 anos, eu irei lhe apresentar depois que isto aqui acabar, ok?

Mas veja, se a sua família não estiver sempre disponível, existe uma saída. Próximo do fim do ‘A Felicidade não se Compra’ — você se lembra deste filme, A Felicidade não se Compra? O anjo Clarence escreve em um livro isso: “Nenhum homem é um fracasso se tem amigos”. E eu espero que vocês mantenham os amigos que fizeram aqui em Harvard. E entre os seus amigos, eu espero que você encontre alguém que queira compartilhar a sua vida com ele. Eu imagino que alguns de vocês neste gramado estejam sendo um pouco cínicos, mas eu quero ser indesculpavelmente sentimental. Eu falei sobre a importância da intuição e como não há nenhuma outra melhor voz para seguir. Isso acontece até você conhecer o amor da sua vida. E isso aconteceu quando eu conheci e me casei com a Kate, e este se tornou o maior momento definidor de caráter da minha vida.

Amor, apoio, coragem, intuição. Todas estas coisas estão na sua aljava de herói, mas ainda assim, um herói precisa de mais uma coisa: Um herói precisava de um vilão para derrotar. E vocês são todos sortudos. Este mundo está cheio de monstros. O racismo, hemofobia, ódio étnico, ódio de classe, ódio político e religioso.

Quando criança, eu sofri bullying — por ser judeu. Foi desagradável, mas comparado com o que meus pais e avós enfrentaram, pareceu fácil. Porque nós realmente acreditávamos que o anti-semitismo estava desaparecendo. E nós estávamos enganados. Nos últimos dois anos, cerca de 20.000 Judeus saíram da Europa para encontrar locais melhores. E no começo deste ano, eu estava na embaixada de Israel quando o presidente Obama declarou uma triste verdade. Ele disse: ‘Nós temos que confrontar a realidade que ao redor do mundo, o anti-Semitismo está aumentando. Não podemos negar isto’.

O meu próprio desejo de confrontar esta realidade me compeliu a criar, em 1994, a Fundação Shoah. E desde então nós conversamos com mais de 53.000 sobreviventes e testemunhas do Holocausto em 63 países e filmamos os seus depoimentos. E agora estamos colhendo depoimentos dos genocídios em Rwanda, Cambodia, Armenia e Nanking. Porque nós nunca devemos esquecer que o inconcebível acontece — ele acontece com frequência. Atrocidades estão acontecendo agora mesmo. Então nós não queremos saber apenas, ‘Quando este ódio vai acabar?’ mas, ‘Como ele começou?’

Agora, eu não tenho que falar para uma multidão de fã do Red Sox que nós estamos conectados com o tribalismo. Mas além da torcida pelo time da casa, o tribalismo tem um lado muito mais sombrio. Instintivamente e talvez até mesmo geneticamente, nós dividimos o mundo entre ‘nós e eles’. Então a pergunta que não quer calar deve ser: Como todos nós juntos poderíamos encontrar o ‘nós’ simplesmente? Como poderíamos fazer isto? Existe muito trabalho a ser feito, e algumas vezes eu sinto que o trabalho nem começou. E não é apenas o anti-semitismo que está surgindo — a Islamofobia está crescendo, também. Porque não há diferença entre quem é descriminado, seja Muçulmanos, ou Judeus, ou as minorias estados de fronteiras, ou a comunidade LGBT — tudo é um grande ódio.

E para mim, e eu imagino, para todos vocês, a única resposta para mais ódio é mais humanidade. Nós devemos reparar — nós devemos substituir medo por curiosidade. ‘Nós e eles’ — nós encontraremos o simplesmente ‘nós’ ao nos conectarmos uns com os outros. E ao acreditar que somos membros da mesma tribo. E sentirmos empatia por todas as almas — mesmo os Yalies (alunos da Yale, onde existe uma rivalidade com a Harvard).

O meu filho é graduado pela Yale, obrigado…

Mas certifique que esta empatia não é somente uma coisa que você sente. Torne isto algo para agir. Isso significa voto. Protestar pacificamente. Falar por aqueles que não podem e para aqueles que podem estar gritando mas não estão sendo ouvidos. Deixe a sua consciência gritar o quanto quiser se você estiver usando isto em serviço de outros.

E como exemplo da ação em serviço de outros, você não precisa olhar mais longe do que este cenário digno de Hollywood da Memorial Church. A sua parede sul carrega os nomes dos alunos de Harvard — como o Presidente Faust já mencionou — estudantes e membros da faculdade de Harvard, que deram a sua vida na Segunda Guerra Mundial. Ao todo, 697 almas que já pisaram no chão que vocês estão agora e foram perdidas. E a serviço desta igreja no fim de 1945, o presidente da Harvard James Conant — que o Presidente Faust também mencionou — honrou os bravos e pediu para a comunidade ‘refletir o brilho de seus feitos’.

Setenta anos depois, esta mensagem ainda carrega a verdade. Porque os seus sacrifícios não é um débito que pode ser pago em uma geração. Ele deve ser pago em todas as gerações. Assim como nós nunca devemos esquecer as atrocidades, nós nunca devemos esquecer aqueles que lutaram pela liberdade. Então assim que sair desta faculdade e entrar no mundo real, continue por favor a ‘refletir o brilho de seus feitos’, ou como o Capitão Miller em o Resgate do Soldado Ryan diria, “Ganhe isto.”

E por favor fique conectado. Nunca perca contato visual. Esta não pode ser uma lição que você queria ouvir de uma pessoa que cria mídia, mas nós estamos gastando mais tempo olhando para os nossos aparelhos eletrônicos do que olhando nos olhos dos outros. Então, me perdoe, mas vamos começar a fazer isso agora. Todos aqui, encontre os olhos de alguém para olhar. Estudantes e formandos da Harvard e você também, Presidente Faust, todos vocês, vire para alguém que você não conheça ou não conheça muito bem. Eles podem estar sentados atrás de vocês ou em algumas fileiras afrente. Apenas deixe os seus olhos se encontrarem. Isso aí. A emoção que você está sentindo é a nossa humanidade compartilhada misturada com um pouco de desconforto social.

Mas se você não lembrar de nada mais a partir de hoje, eu espero que você se lembre deste momento de conexão humana. E eu espero que vocês todos tenham tido muito disso nos últimos quatro anos. Porque hoje vocês começam a percorrer o caminho para se tornar a geração que a próxima geração está. E eu tenho imaginado muitos futuros possíveis em meus filmes, mas vocês determinarão o futuro verdadeiro. E eu espero que seja repleto de justiça e paz.

E finalmente, eu desejo a todos vocês, um verdadeiro final feliz ao estilo de Hollywood. Eu espero que você consiga correr do T.Rex, pegue o criminoso e pelo amor de seus pais, talvez, de vez em quando, assim como o E.T.: Vá para a casa. Obrigado Harvard.

 

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Olá, meu nome é Lucas, tenho 35 anos. Sou formado em Administração pela Universidade Fumec de BH, trabalho com Construção Civil e invisto na Bolsa de Valores desde 2009. Sou leitor assíduo de livros sobre Mercado de Ações, Empreendedorismo, e de histórias de superação. Sou adepto ao Investimento em Valor, filosofia de Ben Graham, e uso esse blog como estímulo para sempre buscar conhecimento e motivar outras pessoas para que elas não desistam do que realmente querem. A minha filosofia é de que conhecimento deve ser compartilhado de graça, porque no fim das contas todos saem ganhando. Continue acompanhando os novos artigos, e não esqueça de comentar! Se quiser me achar no Instagram pra bater um papo, é @buyandhold -- Obrigado! -- PS: Siga o blog Buy and Hold no Instagram, Twitter, e Face, clicando nesses ícones aí embaixo. Você não vai se arrepender! :P

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